terça-feira, 28 de julho de 2009

Kundun

Por ter realizado este filme, Martin Scorsese passou a constar duma lista do governo chinês, de pessoas proibidas de entrar no Tibete. Isto porque o filme relata os primeiros 18 anos de vida do Dalai Lama, o líder espiritual do Budismo tibetano.
O período de 16 anos, aproximadamente, coberto pela narrativa do filme, começando pela descoberta dum menino de 2 anos que passa a ser considerado pelos dirigentes do Tibete como a XIV reencarnação do Dalai Lama, termina com o exílio do Dalai Lama na Índia, depois da brutal ocupação chinesa do Tibete.
Neste aspecto o filme consegue dar-nos conta do horror vivido pelo povo tibetano, às mãos do exército do povo, mas sem que sejamos confrontados com os actos de violência cometidos pelos ocupantes. Esses factos, não sendo de forma alguma omitidos, são-nos apresentados da mesma forma como o foram ao Dalai Lama, pois o filme segue, com uma fidelidade notável, os relatos que o próprio Dalai Lama fez desses acontecimentos.
Cinematograficamente falando, o filme é uma obra notável, com uma fotografia de altíssimo nível, com um cromatismo exuberante, próprio da actual fase do realizador. Há um cuidado minucioso na construção dos cenários, no guarda-roupa e na coerência narrativa. Tudo características que podemos apreciar nos filmes de Scorsese.

Estamos, portanto, perante um documento rigoroso e eloquente que nos permite contactar com um dos mais importantes problemas da história contemporânea, em que os direitos básicos dum povo são liminarmente postos em causa por uma potência ocupante, em nome duma ideologia política de todo alheia à cultura e à vida política desse povo.
A auto-determinação do Tibete e os desrespeito pelos direitos humanos neste território, é, em pleno século XXI, é talvez a maior prova da hipocrisia dos estados democráticos, pois o mundo diplomático cultiva um silêncio ensurdecedor em relação a este problema, para não prejudicar as relações com a China que, nos últimos tempos, tem emergido como uma grande potência militar e económica. Talvez isto permita explicar o relativo fracasso deste filme nas bilheteiras.

Este filme é, também, um documento muito elucidativo sobre os fundamentos do budismo. De forma natural, vão-nos sendo apresentados os princípios do Budimos tibetano, bem como as suas práticas, à medida que vamos seguindo a educação do Dalai Lama. Desta forma acabamos por compreender os fundamentos da nao-violência professada pelo Dalai Lama que lhe valeu a atribuição do Prémio Nobel da Paz, em 1989.
E, por fim, ficamos com uma visão profunda, emocionante e rigorosa, da cultura tibetana e da docilidade do povo que vê no Dalai Lama o Buda da Compaixão, que vem ao mundo para libertar todos os seres do sofrimento.

~ A Arte da Felicidade ~
Por Sua Santidade, o Dalai Lama

Acredito que o objetivo da nossa vida seja a busca da felicidade. Isso está claro. Quer se acredite em religião ou não, quer se acredite nesta religião ou naquela, todos nós buscamos algo melhor na vida. Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade.Quando você mantém um sentimento de compaixão, bondade e amor, algo abre automaticamente sua porta interna. Com isso, você pode se comunicar mais facilmente com as outras pessoas. E esse sentimento de calor cria uma espécie de abertura. Você descobre que todos os seres humanos são exatamente iguais a você e se torna capaz de se relacionar mais facilmente com eles. Isso lhe confere um espírito de amizade. Então há menos necessidade de esconder as coisas e, conseqüentemente, sentimentos de medo, dúvida e insegurança se dispersam automaticamente.Na nossa vida diária, certamente aparecem problemas. Os maiores problemas em nossas vidas são aqueles que temos de enfrentar inevitavelmente, como a velhice, a doença e a morte. Tentar evitar nossos problemas ou simplesmente não pensar neles pode nos dar um alívio temporário, mas acho que há um modo melhor de lidar com eles. Se você enfrentar seu sofrimento diretamente, terá mais condições de avaliar a profundidade e a natureza do problema. Numa batalha, enquanto você ignorar as condições e a capacidade de combate do inimigo, estará completamente despreparado e paralisado pelo medo. No entanto, se você conhecer a capacidade de luta de seus adversários, os tipos de armas que eles têm e assim por diante, terá muito mais condições de entrar na guerra. Do mesmo modo, se você enfrentar seus problemas em vez de os evitar, terá mais condições de lidar com eles.

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