terça-feira, 23 de junho de 2009

Milagre em Sta. Anna

Quando poderia passar da conta no realismo e transformar Milagre em Sta. Anna em um filme de ação com o subtexto da guerra, Lee empurra o filme para a ironia e para um sentimento de humanismo. Ora somos tomados pelo suspense, outras pela dor. Ora nos indignamos com uma traição, em outros momentos nos emocionamos com a capacidade de abstração de um soldado. Isso porque a trama principal envolve os milicos negros, mas o roteiro de James McBride (que também é autor do livro que inspira o filme) traz outras subtramas. O mérito de transitar esses gêneros, tomando todo o cuidado em criar a ambientação necessária a nós, os espectadores, é de Lee. Tantas coisas acontecem em Milagre em Sta. Anna que se torna muito difícil nos desconectar nas mais de duas horas de projeção. Lee mostra que ainda tem muitos recursos artísticos e coloca um ponto de interrogação positivo sobre o que estará por vir na carreira do combativo, e controverso, cineasta.
Mesmo com 160 minutos de duração, há poucas cenas de combate no filme. Porém, tais sequências são bem vívidas, com a violência da guerra retratada em corpos mutilados.
As fortes imagens são apenas um dos recursos que Spike Lee usa para emocionar. Quem não for muito fã de exageros pode não gostar do filme. Por outro lado, quem se dispuser a mergulhar nos dramas exibidos, com certeza sairá da sala de projeção com o coração arrebatado.

A música composta por Terence Blanchard – que já tem uma parceria duradoura com o diretor – é outra ferramenta em busca de fortes emoções. Os nerds com certeza se lembrarão de um grande título sobre a Segunda Guerra Mundial: a franquia de jogos Medal of Honor.

A direção de fotografia de Matthew Libatique (Homem de Ferro) também merece elogios. A iluminação competente une-se aos enquadramentos bem planejados pelo diretor para criar imagens que parecem quadros lindos. Trata-se, porém, de uma beleza macabra, já que muitas vezes o sangue dos soldados serviu de tinta para essas gravuras.

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