
Depois das feéricas recepções no Rio de Janeiro, assiste-se, também, ao nascedouro de um estado perdulário e aos desmandos da má gestão. Mostra-se o início do compadrio e do toma-lá-dá-cá que dá origem ao Banco do Brasil: traficantes de escravos, fazendeiros e negociantes compram ações da instituição para ser compensados com títulos de nobreza. Vê-se surgir a prática das "caixinhas" nas concorrências e pagamentos de serviços públicos: 17% sobre saques do Tesouro. Vêem-se ainda as transformações pelas quais passa a colônia: a criação de escolas, de estradas, de hospitais. A europeização progressiva dos cariocas, que passam a consumir produtos importados, a vestir-se com a moda francesa e a copiar hábitos ingleses. Mas, por trás dos "progressos civilizacionais", a mancha da escravidão persiste: o sórdido mercado do Valongo a receber mais e mais africanos, fazendo a fortuna de empresários proeminentes e respeitados. Elias Antônio Lopes, que doou o palácio de São Cristóvão ao rei, foi um deles. O leitor acompanha, ainda, os viajantes estrangeiros que "descobrem" o Brasil, anotando em desenhos e livros de viagem suas impressões sobre nordestinos, paulistas e gaúchos; sobre negros e índios, homens e mulheres; sobre a natureza perpetuamente em festa. Ele acompanha, finalmente, o declínio de Napoleão, o todo-poderoso que expulsou dom João de Portugal, sua derrota na guerra peninsular e o exílio em Santa Helena. Mas também o ressentimento dos portugueses com seu rei, que os abandonou e esqueceu. O sentimento de orfandade alimenta o desejo pela revolução liberal que eclode na cidade do Porto em 1820, obrigando dom João VI ao retorno.

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